Melhor goleiro do Brasileirão em 2008, Victor ganhou o apelido 'São Victor' devido aos três pênaltis defendidos na Taça Libertadores para o Atlético-MG.
A posição de goleiro no futebol é aquela em que a falha dificilmente é esquecida pelo torcedor. Mas o desempenho de Victor o levou à Seleção Brasileira e a ganhar um apelido de respeito.
O nome é grande, comprido, como o cidadão ilustre da cidade: Santo Anastácio, interior de São Paulo, onde começa uma história de muitas realizações.
“Até me perguntaram: ‘A senhora é que é a mãe do santo?’. Falei, ‘Não, sou mãe do Victor. Santo ele não é não’”, conta Neusa Vidotto Bagy, mãe do goleiro Victor.
Dona Neuza, no mundo do futebol, há controvérsias. “Foi herói mesmo, foi considerado santo”, diz a mãe de Victor.
Três pênaltis defendidos na reta final da inédita conquista da Taça Libertadores para o Atlético Mineiro. Assim surgiu o apelido "São Victor". Era o auge da carreira, no ano passado.
Em frente ao altarzinho que a Dona Neuza tem no quarto, a oração é todo dia. Desde que o caçula de três irmãos saiu de casa, aos 14 anos, para jogar pelo Paulista, clube de Jundiaí, a quase 600 quilômetros de casa.
“Só Deus sabe o quanto eu sofri, o quanto o pai dele sofreu, os irmãos, sofremos demais da conta, mas não podíamos demonstrar”, conta Dona Neuza.
“Isso também foi muito importante no sentido de gerar responsabilidade, porque você não tem mais seus pais para poder responder por você”, diz Victor.
Venceu sozinho. Tornou-se profissional no Paulista e ganhou a Copa do Brasil de 2005. E, algo raríssimo no futebol, terminou uma faculdade. Professor de Educação Física, caso o goleiro profissional não desse certo.
“As duas coisas aconteceram. Consegui me formar e consegui ter êxito na minha carreira de futebol”, diz.
Sucesso acadêmico não era novidade para ele. “Sempre fui bom no colégio, tirava boas notas no colégio”, conta Victor.
Tertuliano de Area Leão, onde Rose e Matilde, professoras aposentadas, foram para falar do aluno. “Coisinha mais linda do mundo, rosadinho”, diz um professora.
“Um aluno inteligente, aplicado, educado”, afirma a outra professora.
“Eu falava: Victor, amanhã o trabalho é do 6. Ele já vinha com o 6 e o 7”, conta uma professora.
O melhor da turma. E como se não bastasse, o temperamento: “Dócil, dócil”, conta uma professora.
O tempo passou. O menino virou goleiro famoso, foi jogar no Grêmio. Melhor do Brasileirão em 2008. No ano seguinte, Seleção. Hoje, Atlético. O tempo mudou muita coisa, mas o temperamento... “O Victor ser humano é 20 vezes mais fantástico do que é o Victor goleiro.
Ele é o ser humano onde eu quero chegar”, diz Gisele, a esposa encantada.
“Quando a gente tiver um filho, ele tem que te puxar assim do cabelo até os pés. É uma pessoa fantástica”, diz ela.
Tem defeito não, é? “Talvez ele se irrite um pouco no trânsito, acho que é a única forma de tirá-lo do sério”, entrega a esposa.
Segundo Dona Neuza, santo não. Um grande exemplo, isso sim: “Ele tem um coração, nossa, imenso, o coração dele é grande demais”.
A prova disso, segundo Dona Neuza, está diante dela. Sessenta crianças, de famílias pobres, digitam, brincam, fazem arte. De certa forma, é como o ofício do goleiro. É no chão, é com as mãos. E, no caso deles, é com gratidão. Palavra que, por aqui, começa com V.
O projeto é bancado por Victor e amigos da igreja. “A referência deles somos nós aqui, educadores, como voluntários, e também a presença do Victor”, conta a coordenadora do projeto social Gisselma Anastácio.
“As crianças têm entrado lá e têm evoluído de forma muito positiva”, diz Victor.
“Quisera o mundo ter tantos outros Victors assim que o nosso mundo seria melhor”, declara a coordenadora.
Não foi por bom coração que Victor se fez goleiro convocado para a Copa. O currículo na Seleção está à altura do aluno de outrora: seis jogos, apenas um gol sofrido, e para Lionel Messi.
Victor e Gisele não têm filhos. Têm os cães Alícia, Uli, Luma. “O Victor treina às vezes três períodos. Dois períodos no clube e um com a Luma”, revela a esposa.
O dono da casa vai brincar de Copa do Mundo nos próximos dias. Dona Neuza, religiosa, jamais vai falar em "São Victor". “Por mais que vocês achem que ele é santo, vamos rezar para São Vitor, né”, diz a mãe.
“Quero fazer história e quero sair na foto de campeão e ser eternizado na memória do torcedor brasileiro”, sonha Victor.
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E com toda a energia que vem lá de Santo Anastácio. “A gente conta com a torcida desses pequenos para ajudar o Brasil a ser hexa”, conclui o goleiro.
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