Talvez seja cedo demais para colocar tamanha pressão nos ombros de Autuori. O problema é que o retrospecto é aliado e algoz do treinador neste momento
Kelen Cristina - Superesportes
Publicação:07/02/2014 08:16 Atualização:07/02/2014 10:25
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“Burro, burro!” entoaram os torcedores |
A calmaria que o Atlético vivia desde 2012, pelo jeito, já é passado. Os primeiros indícios foram vistos no Mundial de Clubes, com a derrota para o inexpressivo Raja Casablanca. Na noite de quarta-feira, em outro revés inesperado – o 2 a 0 para o Tombense –, veio a confirmação de que a lua de mel havia acabado, quando voltou a ecoar pelo Independência um grito que andava sumido. “Burro, burro!” entoaram os torcedores, insatisfeitos com o início de trabalho de Paulo Autuori (foto) no Galo.
A ira da torcida foi insuflada pelas ações do treinador (a primeira vaia ele ouviu ao trocar Fernandinho por Leonardo), mas refletiu, na verdade, o conjunto da obra. Os atleticanos não viram com bons olhos a escolha de Paulo Autuori, torceram o nariz para a demora na chegada dele à Cidade do Galo (só se apresentou uma semana depois do começo da pré-temporada) e não aceitou bem as subsequentes mudanças no grupo, como a saída de Júnior César e a chegada de jogadores como Pedro Botelho e Edcarlos. O ano mal começou e o que era esperança transformou-se em desconfiança.
São apenas três semanas de trabalho. Talvez seja cedo demais para colocar tamanha pressão nos ombros de Autuori. O problema é que o retrospecto é aliado e algoz do treinador neste momento. Se o currículo está recheado de títulos (um do Campeonato Brasileiro, dois da Copa Libertadores e um Mundial), o passado recente não lhe é bom avalista. No São Paulo, durou menos de dois meses em 2013. Em 17 jogos, foram 10 derrotas, quatro empates e apenas três vitórias, 25% de aproveitamento.
Antes, havia ficado pouco mais de três meses no Vasco, onde também não obteve bons resultados – causa e consequência de um clube perdido politicamente e afundado em grave crise financeira. No Grêmio (que dirigiu em 2009, antes de seguir para o Catar, onde ficou três temporadas) igualmente deixou más lembranças, como a passagem sem uma vitória sequer pela Copa Libertadores. Em 2007, demitiu-se do Cruzeiro depois (literalmente) da goleada por 4 a 0 para o Atlético, no primeiro jogo da final do Mineiro. Entregou o cargo no vestiário. “Sou homem, tenho vergonha na cara e tenho dignidade”, disse na época.
Só retrocedendo mais encontra-se um trabalho que tenha rendido frutos: em 2005, quando Autuori herdou de Cuca (!) a base da equipe são-paulina que venceu a Libertadores e o Mundial. Se voltarmos um pouco no tempo, veremos que Cuca também não teve vida fácil em seu início no Galo. Contra ele pesava a recente saída do arquirrival, Cruzeiro. Mas, se não tinha tantos troféus expressivos na carreira como Autuori, Cuca, por sua vez, era abalizado pelos trabalhos sólidos. Faltava a cereja do bolo, que ele conseguiu em sua terceira temporada no alvinegro.
A resistência sofrida hoje por Autuori assemelha-se, ainda, ao que viveu Marcelo Oliveira em seus primeiros dias de Cruzeiro, no início da temporada passada. Marcelo sabia que precisava mostrar serviço rapidamente para ganhar crédito com o torcedor. Em pouco tempo, ele deu uma cara ao time, trabalho alicerçado pelas indicações acertadas de jogadores. Soube formar um grupo forte, baseado no seu estilo de jogo, e acabou o ano campeão brasileiro.
A permanência de Autuori no Galo também está diretamente ligada a bons resultados em tempo recorde. E a semana que vem terá um grande peso nessa conta. Triunfos na estreia na Libertadores, contra o Zamora, na Venezuela, na terça-feira, e no clássico contra o Cruzeiro, domingo, no Horto, vão assegurar a ele tranquilidade para trabalhar. Derrotas, por outro lado, aumentarão – e muito – a cobrança. Por mais injusto e precoce que possa parecer, é assim que a banda toca no futebol.
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