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1 de abril de 2014

Golpe militar: Ídolo do Atlético-MG, sofreu retaliações

Golpe militar: Reinaldo, ídolo do Atlético-MG, sofreu retaliações

Braitner Moreira - Correio Braziliense
Gustavo Marcondes - Correio Braziliense

Um dos maiores atacantes da história do futebol brasileiro, Reinaldo, ídolo
do Atlético-MG, foi o primeiro jogador a falar abertamente contra a ditadura. Ocorreu em 1977, quando o jornal independente Movimento publicou a entrevista com o craque sob o título “Reinaldo, bom de bola e bom de cuca”. Nela, o então centroavante da Seleção Brasileira defendeu eleições diretas, anistia aos exilados e pediu o fim do regime ditatorial. Não demoraria a sofrer retaliações.

Na época, ninguém tinha a coragem de contestar a situação, mas, lentamente, se percebia uma abertura. Alguns setores da sociedade começavam a se posicionar para pressionar os militares”, recorda Reinaldo, hoje com 57 anos, em entrevista ao Correio. “Resolvi falar porque achei que os jogadores também deveriam opinar. O futebol sempre era considerado o ópio do povo, um instrumento da ditadura. Falei para mostrar que não era bem assim.”

Não era a primeira vez que o Rei da torcida atleticana se mostrava interessado em questões sociais. Antes, ele já comemorava os gols com o simbólico gesto do punho para o alto, ligado aos Panteras Negras dos Estados Unidos — consequentemente, contra o racismo —, mas que passava o recado de contestação ao sistema no Brasil. “Tinha a conotação racial, mas era um gesto político”, confirma Reinaldo, que faz questão de afirmar que não participava de nenhum grupo.

Heleno Nunes

A liberdade tomada pelo jogador irritou os militares, personificados na figura do almirante Heleno Nunes, presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD). A primeira retaliação veio na final do Campeonato Brasileiro de 1977 (ocorrida em 5 de março de 1978), quando ele foi suspenso às vésperas da final, entre Atlético e São Paulo, “por forças superiores”. O time paulista ficou com o título nos pênaltis.

Pouco depois, na despedida da Seleção para a Copa do Mundo da Argentina, Reinaldo foi levado para conversar pessoalmente com o presidente Ernesto Geisel, no Palácio Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul. Recebeu o recado claro: “Vai jogar bola. Deixa que a política a gente faz”.


No primeiro jogo, porém, fez o gol do empate em 1 x 1 com a Suécia e não resistiu: punho para o alto. Só fez mais um jogo, o 0 x 0 contra a Espanha na segunda rodada. “Depois disso, o almirante Heleno Nunes foi pessoalmente à Argentina me tirar do time”, recorda.

A perseguição a Reinaldo continuou praticamente até o fim da carreira. Foi alvo de homofobia — só por ter amigos gays —, chamado de drogado e perdeu a chance de jogar a Copa de 1982, acredita, por influência política. “Mas não me arrependo de nada. Continuei participando de todas as ações em defesa da democracia que achava que deveria.

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